Mensagem às que chegam como Dominantes
- Madê Walton
- 26 de abr. de 2016
- 4 min de leitura
Essa intenção não é minha. Sabem que uma coisa que mudou muito a forma de socialização entre BDSMers foi o aparecimento dos grupos de WhatsApp. Eu pretendo escrever sobre isso, como para ter uma perspectiva, fazer uma análise objetiva sobre esse fenômeno que simplificou e, ao mesmo tempo, dificultou a interação. Mas foi justamente em um desses que o tema apareceu.
Ela levantou esse ponto num debate diferente. Estávamos conversando sobre Dominação psicológica, numa divergência acirradíssima. Quando o assunto por si só se esgotou, huve um desabafo. Reproduzo aqui a ideia geral, mas não é minha intenção fazer paráfrases. Vou procurar, também, organizar os elementos sintáticos e semânticos para que os mesmos auxiliem o leitor a formar a opinião que desejar. Faço também uso de termos que a locutora utilizou, mesmo que não sejam os meus favoritos. O que for de minha opinião virá acompanhado dos meus termos favoritos.
Dommes iniciantes e desprotegidas
Essas meninas entram muito jovens no meio. Todos sabemos o quão importante é a experiência de vida, não apenas em quesitos como segurança, proteção e cuidados ou quaisquer temas que podem ser vistos como fatores de bom senso, mas também na sofisticação dos jogos e dos fetiches, bem como na elaboração de cenas complexas e de maior risco. Dommes que acabaram de sair da adolescência não são – por falta de experiência de vida, o que não está relacionado a criatividade ou talento artístico necessariamente – capazes de fazer muito. Não se conhecem, não se compreendem, não sabem a extensão de seus desejos e não sabem como se cuidar.
Quando falamos em se cuidar, falamos em se defender de parceiros abusivos e violentos. Muitas histórias circulam pela cena BDSM, principalmente sobre violência contra a mulher (e aqui, eu, Madeline, faço meu primeiro aparte para dizer que prefiro não reduzir violência a subgrupos de BDSM. O termo é muito mais amplo e presente do que se imagina e não é uma questão de grupos – submissas ou Dominantes), em especial contra aquelas que, como Dommes, colocam-se em posição vulnerável e desprotegida, ante à fúria d um suposto escravo rebelde que, em um momento de catarse, responde com violência, ferindo a Domme. Falou-se, ainda, de como essas situações são contornáveis se observados alguns cuidados relacionados à proteção física.
A indignação das Dominantes que participavam da conversa era nítida. E eu não desdenho de sua posição. Mas, a conversa parece adequadamente incompleta, pois falta uma problematização consistente. Então, aqui vai:

Novinhas: moça, você não será Dominante nos próximos anos nem que você deseje muito. Para ser Dominante, é preciso mais do que berrar, pisar descalça em homens e chamar de verme. Na verdade, eles não são vermes; fingem porque são mais inteligentes que você e sabem como satisfazer as fantasias deles mesmos. Estão lhe usando, porque eles sabem de seus desejos. Você, não.
Sessões: você não vai fazer sessão com o primeiro que aparecer sem ter a mínima noção de quem ele é, vai? Vai, claro que vai, porque você não tem experiência nem aquela malícia boa de sacar quem está ali pra fazer mal. Pise no sujeito nas festas, chute muito saco, xingue muito cada um deles, deixe que eles lhe massageiem os pés. Enfim, divirta-se em locais públicos, com gente em volta. Porque – é o que eu sempre digo para as submissas amigas – amarrada, não tem muito dizer não. E não pense que ele não vá fazer se quiser. Enfim, vá conhecendo as pessoas. Vá ganhando confiança e aprendendo que estar no controle é algo bem pessoal. Se você não consegue dizer para alguém que não quer que lhe beijem os pés ou que não deseja pisar em ninguém (perceba que sequer estou falando em , que é bem diferente), deixe esse negócio de Dominação de lado e vá ser feliz. Não há nada errado nisso.
Segurança propriamente dita: menina, note que há uma fórmula. Procure se perguntar se você faria aquilo após sair de um banco carregando dez mil reais. Imagine que está com o dinheiro numa sacola. Você iria ao apartamento de um estranho para pisar nele? Não. Você iria a um motel com três deles para fazer sessão Pro? Não. Você confiaria em qualquer estranho que lhe chamasse de Senhora e que diria que gostaria de lhe servir para todo o sempre? NÃO. Sabe por quê? Porque seu dinheiro será roubado. Isso se chama bom senso e responsabilidade jurídica.
Faça sessões, sim. Após descobrir que, sim, você é uma Dominante, se dê a chance de descobrir seus próprios desejos. Chega de ser o mecanismo de satisfação de outros – é a sua vez, é a sua chance. Cuide-se, mantenha-se saudável em termos de saúde física e mental, cuide de suas próprias finanças (note menina, que eu sou Findomme. Mas tenho carreira, bens e via independente do meu dinheiro de kink) e de sua vida social. Estude, melhore, seja linda do seu jeito (esqueça esse negócio de agradar macho – não lhe pertence) e faça o que tiver vontade. E cuide de sua segurança. Lembre-se, você não vai sair sem deixar comunicado para outras pessoas onde vai, com quem vai e a que horas volta; escravo que mente deve ir embora; as pessoas têm o direito de ter prazeres diferentes dos seus; quem está com raiva não bate; e que aprender cada vez mais é preciso. Se fizer dessa forma, vai descobrir prazeres inacreditáveis. Se não o fizer... bem, foi um prazer.
Madê















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