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OPINIÃO

13/04

   qua

O sexo nos tempos de ódio

 

Qualquer pessoa com um QI superior a 5 e possuidora de um rádio portátil AM/FM sabe que vivemos tempos difíceis de ser e de compreender. A história, quiçá, logrará explicar esses últimos meses de superestimação da coisa política e as futuras gerações – outra vez, quiçá – poderão fazer a leitura dos dias conturbados que separaram famílias, casais, amantes, parceiros e amigos em diferentes times de futebol. A política partidária e institucional dos anos 2010 acabou, inclusive, com os 10-minutos-sem-perder-a-amizade, clássico dos campinhos e das rodinhas de amigos. Mas o texto não é sobre o futebol de várzea.

 

     Hoje eu acordei me lembrando de amigos outrora queridos e que hoje não o são mais. Relações destruídas por convicções e rusgas ideológicas que parecem tão desimportantes tornaram-se essenciais e definidoras da constituição do afeto. E o mais louco é o sentimento de normalidade que valida essa nova forma de ver as coisas. No campo afetivo, da construção dessas relações de contraposição e aglutinação, é possível perceber o endurecimento das pessoas em seu papel político e o seu alheamento em relação a outras esferas da vida. Agora, o nosso trabalho, aqui, é analisar o que ocorre no campo sexual.

 

     Não sei se os coleguinhas perceberam, mas as pessoas estão transando menos, gozando menos, trazendo menos coisas para a superfície. A política institucional brasileira cortou nosso tesão e está promovendo a assexualização geral, com seus factoides diários, seus esquemas cada vez mais elaborados, diferentes cartas, grampos, conversas vazadas (?) de WhatsApp.  Como faço a verificação disso? Dou um exemplo do mais baunilha e prosaico: outro dia, em um restaurante, um rapaz veio à nossa mesa para entregar se telefone para a mocinha que jantava conosco. Ao ser convidado a sentar-se, o rapaz juntou-se ao assunto “manifestações do dia ____”e rapidamente deixou a mesa. Tínhamos opiniões divergentes; e a pobre mocinha seguiu incólume, sem trepar.

 

     Em tempos de polarização, o sexo é o mais prejudicado, já que a política virou um novelão. E quando não há assexualização, eu noto o embaunilhamento da atividade sexual e lamento muito se você, leitor, é baunilha. Eu não sou, este é meu site e eu escrevo o que eu quiser dentro da lógica do dono da bola. Então, esse embaunilhamento das relações sexuais, ou a rivotrilização do kink, não ajuda exatamente a querer cada vez mais. Parceiros de diferentes roles manifestam essa sensação de que certos termos proporcionam o total desinteresse do parceiro e no parceiro, ao passo em que estimulam uma reação diversa – abrir o Facebook. Quer dizer, é a paumolescência generalizada, que não vê hierarquia, liturgia, libertinagem ou posição no BDSM. Nós, que praticamos o TPE, encontramo-nos na mesma situação, na desestimulação causada em grande proporção pela conjuntura política e suas presentes aflições. Viciados como estamos nos elementos tragicômicos, nossa libido pede mais factoides, mais notinhas, mais blogueiros pró e contra qualquer coisa, mais manifestos, mais atos e menos sexo.

 

     Note, por gentileza, que este não é um texto panfletário; tampouco o é meu espaço. Eu tenho minhas convicções políticas, que não vêm ao caso agora, e realmente acredito no envolvimento da sociedade, em sua acepção mais ampla e completa, nos trâmites atuais. O futuro trará, certamente, mudanças, ainda que não as mais animadoras. Mas o propósito aqui é entender que, por alguma piada de muito mau gosto, política ficou mais interessante que sexo.

 

     Mas, Madê, comofas? Simples: envolve uma boa dose de amadurecimento, sensibilidade e vontade de apanhar, bater, colocar coisas na bunda, em outros orifícios, ajoelhar, pendurar, estar ajoelhado ou pendurado e gozar loucamente. Mas o mais importante disso tudo é que o foco é seu, e não deve encontrar reflexo nas questões políticas do outro. Claro que tudo fica mais fácil se determinados temas forem evitados, como o mandam fazer os manuais de etiqueta. Caso não dê, o importante passa a ser o frango, ou seja, seu desejo. O que for do desejo, é da lei. Mas não permita que gente da qualidade de Eduardo Cunha controle seu tesão e dite seu comportamento íntimo. Pois eu falo de sexo como expressão independente, que envolve aqueles elementos pessoais que pedem determinadas respostas – em nosso caso, aquelas relacionadas ao BDSM. E você se lembra de como foi complicado chegar ao ponto em que você finalmente se conectou com esses elementos para expressar seu desejo de forma íntima e, muitas vezes, de forma pública. Lembra, não lembra? Então, é só continuar com a memória e seguir vivendo. A política do outro não deve afetar minha buceta, assim eu penso. E espero que o breve conselho lhe seja útil e que você permita que apenas coisas gostosinhas lhe preencham.

 

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